o acidental filho do trala*

31 de janeiro de 2010

ouvindo o pedro…

blogosfera Pedro Rolo Duarte, numa entrevista ao Biography Channel, aflora a questão de uma certa desorientação que diz notar na imprensa escrita em geral. Esta desorientação, esta perda de paradigma não é mais que uma pssageira crise de crescimento, digo eu. A blogosfera que, no dizer do jornalista, representa um pouco do que ele gostaria que fosse a imprensa, não a substitui nem se lhe assemelha, volto a dizer eu. De jornalismo nada sei, como nada sei de um sem número de outras coisas, incluindo a própria blogosfera, sobre a qual escrevi, sobre a qual me empolguei um dia, prescrevendo-lhe normativos e augurando-lhe  um lugar de destaque na tribuna mundial da opinião e da irreverência polemizada. E ela é hoje tudo isso. Mas o seu problema consiste em não ser mais do que isso. Ser uma tribuna de opinião política e sociológica, um speaker’s corner das oposições, um muro de lamentações da crise económica, é muito pouco para a blogosfera. Quereria que ela fosse também a expressão de um individualismo sério e autorizado, a manifestação de um estado de alma ecoante, de uma constante poética, de um esboço de novos rumos para a escrita criativa universal. Ecce blogosfera…

Pedro Rolo Duarte no Biography Channel

(Imagem daqui)

30 de janeiro de 2010

obsessões do meu ipod (4)

fausto papetti 

Fausto Papetti é, obviamente, uma pequena concessão que faço ao purismo jazzístico. Papetti não é, definitivamente, um homem do jazz, nem é definitivamente jazz a peça que vos mostro hoje. Porém, ela é encantatória na sua contenção e maturidade extremas. E muito pouco do que nos encanta pode ser totalmente alheio ao jazz. Digamos que se trata de música ligeira, no melhor easy-listening que se pode ter. Ah, pode até ser música do baile dos bombeiros, mas que nos traz uma arrepiante nostalgia, um lampejo da inocência perdida, lá isso traz…

(Imagem daqui)

prémios literários

livros … o meu amigo gameiro ganhou o prémio literário joão de miranda m., vencedor do prémio joão tordo de literatura, que ganhou o prémio josé saramago de literatura, vencedor do prémio nobel de literatura que ganhou o prémio bertha kinsky da literatura. O meu amigo santosilva é candidato ao prémio gameiro de literatura…

(Imagem daqui)

25 de janeiro de 2010

o meu médico…

medico O médico que me assiste é tecnológico, lacónico, portista, e metafórico. Numa das últimas visitas que temerosa e sistematicamente lhe faço desde Setembro passado, ele acariciou o teclado do seu novo gadget e disse:

“Vamos fazer outra citologia”.

“A coisa piorou, doutor? Pode falar claro.”

“Meu caro, ninguém vence este desafio. Estamos a jogar fora de casa e um empate já será uma vitória. O nosso objectivo é que haja prolongamento…”

Só quando cheguei a casa é que vi que, no dia seguinte, ia haver o Benfica-Porto para a Liga Sagres. Era então a este desafio que o meu médico se referia. E havia alguma razão para a sua derrotista previsão. Era a jornada 14 e o Benfica ganhou em casa por um a zero…

(Mas nada disso tem a ver com o meu caso clínico. Ou tem?!)

(Imagem daqui)

24 de janeiro de 2010

…sobre aquilo que quase não se vê e fica ali situado entre o umbiguismo e o provinciano…

recado Não me espanta haver em Portugal noventa por cento de pessoas sem habilitação superior. O que me espanta é o facto de tantas das restantes dez por cento terem conseguido obtê-la… É-me mais fácil saber que competências seria suposto ter para a conseguir do que quais as inépcias que poderiam obstrui-la. Muitas vezes me pergunto como é que alguns indivíduos pertencem àquele risonho e encantado grupo dos dez por cento, tal a abusiva riqueza de boçalidade e tacanhez que, sem nenhum dramatismo, vão evidenciando em todas as manhãs, tardes e noites das suas abovinadas vidinhas. Ah, mas é que pertencem mesmo, assim nos afiançam os seus ostentativos canudos.

É exactamente como dizia a Ti’Maria do X, nos áureos tempos da sua juvenil irrequietude, quando um doutorzito qualquer, todo metido a besta, a olhava de cima da burra: “Ah quantos vão a Coimbra, se burros vão, burros vêm…

20 de janeiro de 2010

ouvido aqui e ali

ouvido “Não, não acho nada bem. A minha mãe diz que uma pessoa que gosta de uma pessoa do mesmo sexo não deve casar logo com ela. Deve ir fazer uma longa viagem para espairecer e tentar achar uma pessoa do outro sexo.” 

Ana, 8 anos, hoje, num programa da Antena 1.

(Oba, quem será a mãe desta miúda?)

(Imagem daqui)

18 de janeiro de 2010

obsessões do meu ipod

Grande Circo Místico - Capa

O Grande Circo Místico” de Edu Lobo e Chico Buarque. Aqui, a “Ciranda da Bailarina”. (Desligue o rádio do blog e ouça o coro de crianças.)

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga,
tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente

Medo de vertigem
Quem não tem
           Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem,
todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...

(Imagem daqui)

17 de janeiro de 2010

a palavra os outros

casamento1

Sobre a instituição do casamento, quer ela seja uma coisa de heteros ou de homos, ou de ambos, ou de nenhum, não me apraz dizer mais nada além do que já disse aqui, mas apetece-me mostrar o que Rui Zink diz aqui.

(Imagem daqui)

13 de janeiro de 2010

Haiti

haiti Não sei se a Terra sabe que há gente passeando sobre ela, gente encafuada em construções matreiras, antros de fragas, babelianas torres, cumprindo o seu tempo de serviço, satisfazendo imperiosos mas obscuros desígnios, gente contando dias como dúvidas, estremecida ao ritmo dos seus cataclismos. Assassina Terra, filiofágica, crua.

(Imagem daqui)

10 de janeiro de 2010

“Les hommes, l’amour, la fidelité”

maryse Ora aí está. Afinal de contas as facadas no matrimónio que tanto homem perpetra diariamente (noitariamente, de preferência) têm uma compulsiva razão biológica. O homem, coitado, não faz mais que sucumbir à sua inelutável condição de macho. Maryse Vaillant vai ainda um pouco mais longe: “Todo o homem fiel evidencia, necessariamente, um desajuste de carácter”. Pois claro, do tipo atraso moral, depravação ou mesmo psicopatia congénita. Como devem estar felizes (finalmente) quase todos os homens do meu sexo!…

(E eu que pensava que a senhora era só a dona de uma fábrica de esquentadores…)

(Imagem daqui)

8 de janeiro de 2010

obsessões do meu ipod

ray charles

“Nasci pobre e fiquei cego. Mas não me queixo. Pior que tudo seria se tivesse nascido preto…”  (a autobiografia minimal de Ray Charles)

Talento, voz, sensibilidade, humor fino e cáustico. Um pessimista bem resolvido, um optimista no seio do infortúnio. Vá lá, desliguem de novo o radio do blog. Cliquem no play para ouvir Somewhere over the rainbow.

(Imagem daqui)

… nesta hora difícil…

paneleiros Antes de mais, cumpre-me deixar aqui uma palavra de conforto e solidariedade, nesta hora negra, a todos os homens do outro sexo. Eu sei o que é ficar indefeso contra a instituição do matrimónio. Até agora, o estado velava pela vossa integridade física e mental, afastando liminarmente de vós qualquer hipótese de contrair matrimónio. Era, digamos assim, uma vacina eficaz contra a aquisição do estado civil de casado. A partir de hoje, todavia, vocês estão tão desamparados como qualquer um de nós. Eu sou heterossexual, extremamente vulnerável (fui infectado duas vezes pela moléstia do casamento), e sei bem os reveses que isso me tem causado na vida. Querem um conselho? Agora que já podem casar, esqueçam. Permaneçam solteiros.

(Imagem daqui)

2 de janeiro de 2010

puto chatinho, meu…

pai natal Nunca me tinha apercebido de como é difícil conversar com uma criança sobre os delírios natalícios.

O pai natal é que traz as prendas, sim, mas de onde, com que dinheiro, em que shopping as compra? E se é tão rico como dizem, por que não tem dinheiro para uma simples gillette? E por que desce pela chaminé? Será burro, labrego, maníaco-depressivo? Afinal o pai natal é um hacker ou um infoexcluído? E viaja de rena ou de vespa? Rena come o quê? E quem é que come as renas? Onde diabo se vendem asas de rena? E o menino Jesus não cresce nunca? Com aquela idade, e aquele tamanhinho de que lhe adianta estar nu? E a Nossa Senhora é minha e de quem mais? E por que resulta mais pedir em voz alta do que rezar em voz baixa? Ora, também não sabes nada, já vi tudo…

(Imagem daqui)