o acidental filho do trala*

29 de dezembro de 2011

Obsessões do meu ipod (31)

Alguém chamou a isto “accordgasm”. E, de facto, assim parece. É um jovem ucraniano, de nome Alexander Hrustevich, que assim interpreta um trecho do Verão de Vivaldi.O tremelicado é muito mais fácil de fazer com um arco de violino do que com o pesado fole e chave de baixos de um acordeon.

obsessões do meu ipod

Alguém chamou a isto accordgasm. E é. É um jovem acordeonista ucraniano, de nome Hrustevich. Toca assim uma parte do Verão de Vivaldi.

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27 de dezembro de 2011

Preparando os cursos da primavera

SabedoriaO ligeiríssimo, num apelo irresistível à cultura do país (e também das pessoas que estão dentro dele), apresenta desde já o seu boletim de primavera relativo aos cursos seguintes:

FILOSOFIA I - Teologia das Conveniências

Sumário:  Uma primeira abordagem a Deus (mas de modo que Ele não se aperceba). Explicação sumária do mistério da Santíssima Trindade e do mistério das finanças públicas. Você, por acaso, sabe que diabo se passou com o dinheiro? Eu também não sei, mas o idiota que vai dar este curso deve saber. Saiba ainda por que razão não existe mérito nenhum no facto de Deus escrever direito por linhas tortas. Qualquer aluno faz o mesmo, não só em relação ao Direito, mas em relação a todas as outras disciplinas... Vocês já viram a caligrafia do Nuno?  E as Traduções do Inglês que ele faz? 

Mecânica e Electricidade II

Sumário: Você sempre quis saber a razão por que não se pode fritar um ovo numa guitarra eléctrica ou enviar uma mensagem curta (sms) com um massajador íntimo? Aliás, você nem sequer sabe o que é um massajador íntimo. Fique sabendo que não se pode enviar uma sms com um destes massajadores, pelo simples facto de que o massajador íntimo já é, em si mesmo, uma bela mensagem. Agora V/ pode aprender tudo isso e muito mais, sem sair de casa e, com um pouco de sorte, sem mesmo sair da cama.

Sexualidade III

Sumário: Procedimentos para conseguir um pénis mais apelativo e, portanto, uma conta bancária maior. Este curso ensina-lhe com quantos paus se faz uma canoa e com quantas varas se faz uma  camisa de onze varas, sem esquecer a verdadeira função do pau de virar tripas. Tudo à tripa forra.  Você tem a certeza de que sabe usar um preservativo, ou, pelo menos, de que contratou uma parceira que sabe? Modos de pescar preservativos, quando eles ficam lá dentro. Para os mais jovens, o curso apresenta uma interessante introdução ao órgão genital feminino, numa perspectiva cavaleira.

Literatura Medieval IV

Sumário: As Cantigas de Amigo e  as Queixas de Marido, de João Ruiz do Castelo do Bode. Os Alunos são encorajados a escrever e enviar uma Cantiga do Bandido  à esposa boazona do grandão que mora por cima. Todo o material do curso é gratuito, inclusive a escada de emergência, a manga de bombeiro e uma caixa de primeiros socorros.

Introdução à Biologia e Miudezas II

Sumário: Este curso ensina tudo sobre aqueles órgãos de que ninguém fala porque nunca dão chatices: glândulas vilas molenas (José Afonso em Mandarim), fígado de bacalhau, pé de atleta, mão de vaca, palma de maiorca, espírito de porco, nove e tal, calcanhar de aquiles, corações de atum, tripa forra, língua da sogra, etc. Fique a saber a razão por que temos um baço e não temos um lustroso. e que quanto mais baço é o baço, menos transparentes são as atitudes dos nossos políticos. 

Você sabia que há homens que têm umas glândulas mamárias fantásticas, mesmo ao seu lado,  e não sabem o que fazer com elas, e até conseguem adormecer? E que, pelo contrário, há outros que não têm nada que preste e que, mesmo assim, ficam em casa todas as noites, e fazem milagres??  Pense nisso e sinta a tranquilidade de saber que o mundo nunca se vai virar. Boas aulas.

     (Imagem daqui)

7 de novembro de 2011

A educação é uma coisa muito linda…

image

No início de uma de minhas aulas, bem cedo, pouco passando das 8,30, reparei que um dos alunos se preparava para dormir, colocando ostensivamente junto das orelhas um velho despertador de lata ferrugenta que não ficava a dever nada ao que vos apresento na imagem. Aproximei-me lentamente e falei-lhe muito de mansinho: - Se pretendes despertar ainda durante esta aula, deves regular o despertador para a hora em que desejares fazê-lo. Se, pelo contrário, pretendes continuar a dormir até o fim dela, não precisas de o utilizar, pelo que deves remetê-lo de volta à mochila. Além de tudo, como deves ter já tido disso alguma percepção, há no final da aula um abominável toque de campainha que, inevitavelmente, te arrancará ao torpor da madrugada e desta lição…  - Tem toda a razão, Senhor Doutor. O senhor é, de facto, um homem sábio. Mas acontece que eu pretendo ouvir a segunda parte da sua aula. A minha mãe pediu-me que prestasse atenção, pelo menos, a cinquenta por cento das aulas da manhã. Afirmou-me que, no seu tempo, também assim fizera e hoje está bem na vida, embora isso se tenha devido, principalmente, ao facto de ter casado com um dos actuais donos das Águas de Portugal que, por mero acaso, é também meu pai. Vou, pois, guardar o despertador tal como me sugeriu, pedindo-lhe ainda dois gratos favores: Primeiro, que mantenha um nível de voz consentâneo com o meu repouso; segundo, que me acorde daqui a 45 minutos se, porventura, eu não acordar com o barulho dos alunos que entretanto, e como de costume, acordarão também por essa hora… Muito obrigado. – De nada, ora essa!

  (Imagem daqui)    

12 de setembro de 2011

Eficácia eficácia, sexos à parte

SexosA filosofia educacional do professor Everett J. Wilson, director do secundário na Masters School (Estado de Nova York), promove a separação dos sexos, com vista à aprendizagem diferenciada de rapazes e raparigas. A filosofia, apesar de nos parecer retrógrada e um pouco rançosa, pode muito bem estar certa, pelo menos em parte.

No meu tempo (algures entre a Antiguidade Oriental e os Beatles), não havia turmas mistas. Todos desconfiávamos da existência de raparigas, mas nenhum de nós tinha, até então, tido a ventura de estar a menos de cinquenta metros de uma delas. A primeira vez que vi uma garota numa das minhas turmas foi nos finais da década de sessenta, eu era um morceguito de 17 anos e nunca mais dei uma para a caixa nas aulas de Latim… Ainda hoje não consigo descrever a perturbação que aquela presença feminina trouxe à minha vida académica e à organização das minhas aprendizagens. (Um pouco mais tarde descobriria que o estrago que as mulheres provocam nas nossas vidas vai, de facto, muito além da nossa carreira académica).

Por seu turno, as raparigas não são menos prejudicadas nas turmas mistas, por causa das bocas impróprias ou extemporâneas da inconsequente e boçal rapaziada. De facto, é visível que a canalha do sexo masculino se costuma armar aos cágados com as suas alarvidades e que as garotas, mais maduras, acabam por lamentar o tempo que estão ali a perder na sua companhia…

Um pouco mais a sério, quem defende a teoria da separação de género baseia-se na diferença de ritmos de aprendizagem, embora não sustente, de modo inequívoco, qual dos sexos é mais rápido e qual mais lerdo.

Com um pouco de azar, perfila-se no horizonte uma nova divisão de trabalho. Basta acrescentar à questão dos ritmos de aprendizagem alguns programas, cargas horárias e disciplinas um pouco mais consentâneas com a sensibilidade do belo sexo. Et voilà.

E é assim que, em nome da eficácia educativa, se sacrifica o festivo colorido de uma turma alegremente promíscua e atarantada. Tudo no bom sentido e a bem da nação, é claro... :)

  Tralapraki.  (Imagem daqui)

11 de junho de 2011

Atropelos

atropeloTodos sabemos que se aproximam lutas, urros, uivos, arruaças e revoltas, manifestações e greves. Sabemos que haverá contestação nas ruas, quer isso resolva os nossos problemas, quer acrescente problemas novos aos que já temos. E umas das mais importantes guerrilhas que se desenham no horizonte curto é a que oporá a troika à já semi-espoliada Constituição de 1976.

A perspectiva do atropelo já voa por aí de boca a orelha. É já palavra corrente que muitas das directivas referidas no documento da troika atropelam, com o seu revanchismo atrevido, a Constituição da Republica.

Por outro lado, não faltará quem sustente que a Constituição, no seu resguardadíssimo articulado, atropela as directivas referidas no documento da troika.

O atropelo será, portanto, mútuo, como mútuas serão as diatribes produzidas. Ou, se preferirem, a irresponsabilidade de uns atropela a tirania dos outros.

(E vice-versa, pois claro.)

   (Imagem daqui)   

29 de abril de 2011

o ligeiríssimo foi ao casamento da princesa (2)

pai de kateNão sei por que meios ou por que carga de água, tive oportunidade de contactar com o senhor Middleton:

“Claro que of course estou happy. O rapaz the guy não é rico mas é normal straight, não sofre de ataques de homossexuality, e tem um bom emprego, é aviador. Isso de ser príncipe não me diz nothing… mas a minha filhota ficou tarada de todo quando soube que ele era o Prince… ela gosta muito da música dele… E depois ele tem cara de ser um banana, nerd you know,que é tudo o que uma mulher deseja e precisa para ser feliz… Agora desculpe, mas tenho que me ir atirar aos canapés…“

  (Imagem daqui)

o ligeiríssimo foi ao casamento da princesa (1)

kateA noiva Kate ia, de facto, linda, com um vestido cheio de dúvidas e de expectativas, um diadema de 1930 e, claro, o nariz do pai…

 

(Imagem pública)

13 de abril de 2011

Os meus amigos do Foice Buque

facebook1Eu não sei o que está a acontecer aos meus amigos. Dizem-me que emigraram para uma espécie de país chamado Foice Buque que é na Internet, não sei se mais perto ou mais longe que Powerpoint. Estão todos bem, graças a deus, parece que trabalham numa quinta e não lhes falta o sustento. (Que isto já se sabe, quem trabalha numa quinta, mesmo que ganhe pouco, sempre arranca umas laranjas ou rouba uns morangos ou mata uma criação e lá vai vivendo).

Identifico-os pelas fotografias mas não os reconheço nas piadas. Dantes eram mais inteligentes e diziam mais coisas. Sentados à mesa recheada de minis, soltavam genialidades e arrotos. Enfim, eram amigos normais.

Agora não. O Zé anda sempre à procura de pregos para consertar a vedação, (que isto já se sabe, quintas grandes é assim, as vedações estão sempre a precisar de trato). O Pedro anda a prender ladrões (santo deus) e a comer rosquinhas, em vez de caldeiradas, bifanas e farturas, como dantes fazia. A Etelvina deu em comentadora de fotografias e de ligações (?), nos tempos livres que a quinta lhe permite. O Diogo, coitado, não diz coisa com coisa! Cola ditarolas de outras pessoas, quase sempre nos sítios obtusos e nos momentos errados. (A assincronia da Internet só pode ser conspiração do grande capital!).

Enfim, alguns estão a abrir negócios e há até um que fundou uma nova cidade e agora está a construir uma prisão, porque, enfim, parece que a Farmville e a Cityville não nos trazem nada de novo, além de mais um tópico de alienação primária…

  Post 736                 (Imagenm daqui)

9 de abril de 2011

Do amor e outro olvidos (5)

abordagem A abordagem


Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal.

 

Achavas então que eu não voltaria ao assunto, meu caro Paulo! Vê-se que não me conheces suficientemente. Certamente imaginaste que o facto de as minhas abordagens anteriores se terem saldado por um certo fracasso, em termos de audiência, amoleceria o meu desejo de continuar. Como achas tu que eu consegui o que consegui (embora muito pouco, quando comparado com o primo João Luís, é claro)? Desistindo logo à primeira nega? Claro que não, companheiro.

Hoje, quero-te falar da abordagem. Sim, não, bom, não é propriamente essa dos piratas em alto mar. É a abordagem que se faz às mulheres, certo? Ora aí está. Mas é uma abordagem, quand même…

Na vida, caro Paulo, há dois tipos de homens: os ricos e bonitos e os feios e pobres. Raramente estes adjectivos fazem permutas entre si. Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal. Um homem pobre que seja, por hipótese remota, belo, estará a

criar um paradigma de fealdade sobre o que antes era um arquétipo de beleza, digamos, romântica.

Todo este arrazoado serve para te dizer que eu, um generoso espécime de homo feiissimus, suei demais para conquistar as poucas mulheres que me permitiram apaziguar a minha relação com o desejo. Paulo, eu não tenho certeza se tu és mais bonito do que eu era quando tinha a tua idade. Mas sei que somos ambos pobres. Na verdade, tu ainda estás pior que eu porque tu nem curso tens ainda e, mesmo que já o possuísses, isso não ia fazer grande diferença. Posso, portanto, partir do são princípio de que a minha situação de há 40 anos é, em quase tudo, semelhante à tua situação de hoje, descontando, obviamente, as transformações que o tempo operou na cabeça e no entendimento das mulheres, profundas, sem dúvida, mas não suficientes para criar abismos intransponíveis entre as do meu tempo e as que hoje se te apresentam pela frente. Ah, adormeceste! Continuamos noutro dia. Toma lá esta manta que, parecendo que não, este clima desorientado pode arrefecer de repente e…

  (Imagem daqui)

8 de abril de 2011

idiotas

Os nomes seguintes pertencem todos a pessoa que considero uns perfeitos idiotas:

1.* _________________________________________________________________

2.* _________________________________________________________________

3. *_________________________________________________________________

4.* _________________________________________________________________

5.* _________________________________________________________________

* A lista, obviamente, não está completa. Prometo completá-la logo que seja bafejado com o Euromilhões. Poderei, então, escrever todos os nomes que, por enquanto, entopem o meu esófago (por dificuldade em os engolir e medo de os vomitar).

Os primos e eu…

eleicoes-20081 Vêm aí mais eleições. (Agora é todos os anos). Fica aí essa penetrante análise, para vosso governo (?).

Passos Coelho é muito parecido comigo quando fui Coordenador de Departamento: mandava os meus bitaites todos os dias, mas quem mandava realmente era quem me tinha lá posto. E eu continuava a mandar bitaites, e todos éramos muito felizes só por imaginarmos todos que o éramos.

Sócrates é como o meu primo Valter: é vendedor de sanitas mas também faz fotografia artística e livros de autor com badana e tudo, capa rija e isenção de IVA.

Portas é como eu quando não sou Coordenador de Departamento nem tenho qualquer outro cargo: acho que tudo está mal e que todo o trabalho desses órgãos é absolutamente imprestável.

Jerónimo é um homem honesto, no sentido mais vacilante do termo. É tal e qual o meu primo Zé Tó. Motorista de uma locomotiva há muito parada, olha

pela janela a ver se algum transeunte lhe dá um empurrão. Mas se alguém lho der, ele salta fora da máquina mal ela pegue…

O Francisco é como o meu primo Basílio: açougueiro de profissão, bota faladura requintada sobre as carnes que vende, sem no entanto fazer ideia da sua verdadeira proveniência. Espreita a rua através das fitinhas coloridas da sua porta estreita e, se alguém entra é freguês, ainda que seja um vega que ali entre por engano.

O FMI não sei quem é, apesar de já me ter cruzado com ele uma ou duas vezes. Só sei que faz muito bem ao país e muito mal às pessoas que vivem dentro dele…

Mais coisa menos coisa, temos que escolher entre aqueles líderes, como se estivéssemos, de facto, a escolher entre mim e os meus primos Valter, Basílo e Tó Zé. A diferença não seria colossal. Provavelmente, nem perceptível.  

                                                                                                      (Imagem daqui

duas

“Eu sei que são duas, ora!”

(Imagem daqui)

4 de abril de 2011

ser rico dói?

ricoOs muito pobres que me desculpem, mas riqueza é fundamental.

Um grande poeta brasileiro começou assim um dos seus mais saborosos poemas. Todos sabemos que os muito ricos ficaram assim por uma das três razões seguintes: 1 herdaram; 2 roubaram; 3 tiveram sorte. Em alguns casos juntaram-se as três, numa conjura afortunada e deixaram a vítima em estado lastimável, sem possibilidade de se poderem livrar da riqueza. O doente contrai então uma espécie de riqueza crónica, incurável, persistente. Nem todos os ladrões do mundo, nem todas as amantes do seu bairro, nem todos os estados gananciosos, nem mesmo a GNR com as suas providenciais multas conseguem tirar-lha.

Ficam assim, inabalavelmente ricos, frustradamente ricos, embora a maioria não apresente sintomas muito desconfortáveis. A riqueza deste tipo produz apenas um pouco de sonolência e, por vezes, alguma burrice, também ela crónica. Os alardeados sintomas de tristeza suicidária ou frustração maníaco-depressiva, febre dos fenos e frieiras interdigitais de que se diz sofrerem os ricos não passam de mito ou superstição. É certo que são ocos e presunçosos e possuem um mau gosto de pasmar, mas isso não faz deles criaturas merecedoras da nossa compaixão…

Um acrescento: a doença parece não ser contagiosa. (Infelizmente).

      (Imagem daqui)

18 de março de 2011

Do amor e outros olvidos

breca

Abraços e embaraços

Há um sem-número de incidentes mais ou menos embaraçosos que podem ocorrer durante o acto sexual. Na verdade, tudo o que não seja o natural e expectável desenvolvimento do processo é embaraçoso. Trata-se de um trabalho meticuloso, exigentíssimo em termos de concentração, que não admite falhas, interrupções ou adiamentos. Ninguém pode, a meio do processo, dizer algo como isto: bom, acho que vou fazer um intervalo para apanhar um bocado de sol.

Todos os órgãos têm que estar meticulosamente afinados, mesmo os que não tenham intervenção directa no acto, como são os casos do baço, do pâncreas ou da bexiga. Estes órgãos, apesar de nunca serem convidados para o sexo, apesar mesmo de o sexo se tornar improvável se um dos parceiros os mencionar ainda que de passagem, têm que estar de boa feição para permitir, em silêncio, que tudo se passe conforme a natureza ditou. E olhem que não é tarefa fácil estar ali a assistir a tudo, sem poder tomar parte… Por uma questão de justiça, devemos agradecer a esses órgãos a sua complacente paciência e solidariedade, sempre que o acto seja coroado de êxito. (Há homens que só agradecem a Deus e se esquecem sistematicamente deles.)

Porém, o maior inimigo de um bom desempenho é a breca. A historiografia sexual está cheia de desastres provocados pela breca. Nenhuma mulher entende isso e, no entanto, a breca é muito mais frequente do que se imagina. Tu levantas-te de repente com uma perna no ar, ganindo de dor, não tens posição conciliatória, nem te ocorre sequer alinhavar uma justificação. Ficas ali apavorado e já nem te preocupas com a tua imagem arruinada. E a tua parceira a achar que não passas de um palhaço e que teria feito melhor se aceitasse o convite do marido para ir visitar a tia Leopoldina. Um nome a riscar do seu cardápio é o que para ela passarás a ser em definitivo. A breca destruiu-te a noite e a auto-estima. Encolheu-te, num só dia, uns bons dois ou três centímetros.

A breca provoca a auto comiseração e o arrependimento. É o primeiro passo para a salvação da alma. Por isso, Paulo, nas tuas próximas conquistas, não peças a deus a presença majestosa da erecção. Pede-lhe antes a ausência da breca…

(Imagem daqui)

7 de março de 2011

bem fundadas preocupações

preocupacao Estou muito preocupado. Há dias fui tirar o cartão único. Apanhei no caminho um bocado de chuva e uma ventania de furacão, de forma que cheguei lá com os cabelos eriçados que nem gato assanhado. Tudo digital, pois claro. Assinatura, dedadas, fotografia. Não deu tempo para passar os dedos pelas melenas desgrenhadas e a máquina apanhou-me mesmo assim. Sem contemplações, sem apelo. Ainda percebi algum desassossego que a foto provocou na menina do registo civil, mas nenhum de nós moveu uma palha para substituir a inominável fotografia. Erro fatal.

Nada disto teria importância se estes novos cartões não percorressem o mundo inteiro, até irem parar algures nos EEUU, onde um dedicado funcionário analisa os trombis, as fronhas, enfim, os rostos de tudo quanto é cidadão mundial, a fim de detectar possíveis facínoras e prever eventuais ataques terroristas. Ora se, tanto quanto fui informado, o aspecto físico dos cidadãos é elemento considerável, quase decisivo, para a sua classificação como suspeitos nos arquivos da acção anti-terrorista intercontinental, não sobra nenhuma dúvida de que devo estar, neste preciso momento, numa qualquer lista negra como provável bombista, ou coisa pior. Se juntarem à insana guedelhice da minha foto doze namoradas, dois divórcios e uma vida inteira sem fé nem sacristia, pouco fica que me possa furtar à conjectura final - elemento perigoso para a civilização ocidental. No mínimo.

(Imagem daqui)

11 de fevereiro de 2011

Diálogo inter-civilizacional

Velho - Tânger - Marrocos - Fevereiro 2001- أين هو الشيطان الحمام

- É mesmo ali ao lado, segunda porta à esquerda.

(Meia hora mais tarde)

- آه, وشكرا. بل إن à rasca.

- Ora, não tem de quê. Acontece a todos, e para isso é que servem as casas de banho…

- ما معنى الجبر لقد اكلوا  feijoada  على الغداء

portugues- A mim, o que me solta a tripa é caldeirada de cabrito.

- وهذا يتيح لي-لي بل هوو  arrotos  والغازات عام

- Lá está,  e a mim é ao contrário. O que me dá gases é a fruta. Qualquer tipo de fruta.

- تجاوز. لقد كان لقد patroa الانتظار

-Vá, vá, amigo, antes que ela se zangue…

(Imagens daqui e daqui)

rasmaparta se não é verdade…

apresentador

(…mais um post fútil e parvito…)

Há agora uns gabirus na televisão que nos apresentam praticamente tudo, desde programas populares a artesãos e salsicheiros e velhinhas que fazem toalhas, velas e queijadas.

Uma ocasião, numa quente e saborosa tarde de Verão, eu estava deitado na fina areia quando verifiquei que se formara, de repente, do lado do leste, um barulhoso ajuntamento, espécie de quermesse ou micarene ou baile de bombeiros, junto ao paredão. Tinham alcatifado um recinto e pousado em cima um presidente da câmara, três guarda-sois e dois vereadores, e havia miúdas a saracotear a coluna, e outras colunas pousadas no chão, de onde brotavam ganidos do cantor de charme que garganteava as cantigas de Agosto, e uma banda a suar soar, com as guitarras desligadas, que a luz está cara. E, claro, havia a providencial caterva daqueles apresentadores basto comunicantes, cursinhos tirados nas universidades comunicaciológicas, cultura colada às pressas, muito sorriso pepsodente, pouco bom senso e praticamente nenhum talento.

Vai daí aproximei-me, muito mais para ver as pernas das bailarinas (esta miopia galopante obriga-me a aproximar cada vez mais, e mais perigosamente, deus me valha, do objecto a tocar focar) do que o talento dos rapazolas tagarelas. Mas ai, um dos pepsodentes veio ter comigo e perguntou-me de onde eu vinha. Apanhado de surpresa, disse a primeira coisa que me veio aos beiços: Unhais da Serra. Aí ele respondeu muito bem, sim senhor, Unhais da Serra! E continuou o seu trabalho. E eu fiquei a pensar ufa que sorte que tive. Se tivesse dito outra coisa qualquer, talvez não tivesse acertado… mas Unhais da Serra valeu-me um ‘muito bem’ do locutor. Há tiradas de sorte… 

(imagem daqui)

7 de fevereiro de 2011

Todos os meus casos amorosos tiveram finais felizes, à excepção dos dois últimos, em que tive que casar…

6 de fevereiro de 2011

azia

Doutor, hoje cedo vi que me tinha nascido um filho. Devo ter comido alguém que me fez mal...

Amigo meu é defeituoso…

amigosGosto irremediavelmente dos amigos, mas não acredito que eles sejam a coisa melhor do mundo. Na verdade, a coisa melhor do mundo são as amigas. Mas gosto. Cumprimento-os, saúdo-os, escuto-lhes as manias, adiciono-os. Reconheço que é bom fazer amigos novos e dificílimo preservar os velhos. Nunca acreditei, no entanto, que os amigos servissem para alguma coisa. A maior parte não tem serventia. Muitos estão sistematicamente ocupados quando precisamos deles, mais ocupados que casa de banho de cervejaria, em dia de arraial. Outros, imaginem, não bebem. Para que serve um amigo que não pode beber vinho tinto? Para nos criar problemas de consciência quando se senta à nossa frente munido de uma água de luso, para acompanhar bacalhau à lagareiro? A vida enche-nos a mesa e o balcão de amigos improváveis. Um amigo assim tem que ter alguma virtude extraordinária para que possa valer a pena tê-lo. E o problema é que, geralmente, não tem. Está certo, ele tem um hálito de zéfiro e um fígado exemplar. E daí? Para que serve um amigo que chega a muito velho, se nós não chegamos? Um amigo tem que ser mais solidário, que diabo! Na alegria e na víscera…           (Imagem daqui)