o acidental filho do trala*

29 de julho de 2010

gebo dois

fiilosofo matarruano










Lembram-se do boneco do filósofo matarruano de Ricardo Pereira, o que chegava a ter dois pensamentos por mês? Pois o labrego que ora vos fala é filósofo muito maior que aquele. Só hoje, imaginem, só hoje e em menos de duas horas, tive dois pensamentos dois e uma pergunta existencial. Começo pela pergunta existencial: Quem disse que há alguém responsável pela Praia de Mira? 

Agora os pensamentos: 1º pensamento - Faltam-me dois meses para ser sexy genário. O aspecto vai coincidindo. Mas descobri que não é a careca ou a barriga que denuncia tão ferozmente a nossa idade. É o pescoço. Veste uma camisola de gola alta e tens logo menos 20 ou 30 anos. Vivam as camisolas de gola alta; 2º pensamento - Cinco euros podem comprar cinco segundos de exultação, uma espreitadela furtiva do paraíso pela frincha da porta que alguém esqueceu entreaberta. Fui almoçar na praia e paguei a conta de 15 euros com uma nota de 20. Como o vinho tinha sido bom e a garota que me atendeu foi prestativa e atenciosa, deixei-lhe os cinco euros de gorjeta. “Muito obrigada. O senhor é muito simpático. Tive muito prazer em o servir. Volte sempre.” – disse ela. Setenta caracteres de felicidade suprema – digo eu.                                       

 (Imagem daqui)

22 de julho de 2010

O Verão é um tempo propício à reflexão…

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… disse hoje o nosso Presidente. É por essas e por outras que eu nunca poderia ser presidente da república. E sabem sobre que é que ele vai reflectir? Vai reflectir no sentido de decidir se se vai ou não recandidatar à Presidência. Admitindo que tal decisão é, de facto, uma decisão grave e difícil, não me custa imaginar que Sua Exª passe todos os vinte e três dias úteis das suas férias a pensar, a reflectir. E este mar? E Este céu? E estes 30 graus? O que se faz quando a natureza nos brinda com estes milagres? Reflecte-se sobre ser ou não ser Presidente?! Ah não!

E tem mais, coitado! Suponhamos que ele decida recandidatar-se! E, pior ainda: suponhamos que ele volta a ganhar as eleições, coitado! Já que ele acha que o Verão é tempo de reflexão, sendo assim um Presidente tão reflexivo, vai perder, inapelavelmente, mais quatro ou cinco Verões de sol, finos, praia, mergulhos e bikínis. Coitado!

(Imagem daqui)

17 de julho de 2010

Claudino Mendes

barraco Claudino Mendes, antigo combatente da primeira guerra, vivia, nos alvores dos anos sessenta, num pardieiro em ruínas que fora em tempos cortelha de galinhas, nos limites da povoação chamada do Cabeço. Conheci-o. Tanto quanto mo permite agora a memória das coisas que se guardam na infância, assemelhava-se a um daqueles profetas do Antigo Testamento que povoavam a minha Bíblia das Escolas – longas barbelas hirsutas, gabão de surrubeco corroído, olhava-nos garboso do alto dos seus quase dois metros e dos pergaminhos ilustres do posto de cabo de infantaria que honrou na Flandres. Cláudio Mendes era o tolinho do Cabeço. Intrigados com tal personagem, costumávamos espiá-lo dentro do seu galinheiro, aconchegado no gabão, pés de fora do cancelo aproveitando os ténues raios de sol das tardes de inverno.

Maria das Dores surgiu, afogueada, do quintal vizinho, transportando na mão um grande saco de abrunhos amarelos.

- Oh Ti Claudino, arranje-me aí um pratinho que eu deixo-lhe uns poucos destes abrunhos.

Claudino Mendes olhou para dentro do barraco e chamou:

- Copeiro, traz uma salva da cristaleira para guardar os abrunhos da Senhora Maria das Dores!

(Imagem daqui)

16 de julho de 2010

Gramaticarei-lho…

gramatica A fim de fazer face à presente crise, resolvi vender um velho cordão de ouro que minha mãe me deixou. Providencialmente, surgiu hoje na televisão um anúncio em que um sujeito, com uma cara de parvo simpática, anuncia que avalia e compra velhas peças de ouro. Apurei a orelha, mas logo desisti. Nunca faria negócio com um tipo que diz “enviaremos-lhe”.

(Imagem daqui)

10 de julho de 2010

Teodiceia de betesga

deus Deus, quando criou o Homem, não lhe devotou cuidados especiais em relação aos que teve com as restantes bestas. Muito pelo contrário. Desde logo deu ao homem uma vida que pouco ultrapassava em anos a de um burro ou um macaco. Em matéria de longevidade, Deus foi mais generoso com as baleias (os cetáceos, e não as nossas insuportáveis amantíssimas esposas), às quais (as do mar) atribuiu uma vida incomparavelmente mais longa e menos estúpida burocrática. Foi devido à sua mania das grandezas, e ao seu poder reivindicativo, que o homem conseguiu, ao fim de uma

interminável luta sindical, ter direito a uma vidita um pouco mais longa - 70 anos para ele e um pouco mais para a baleia lá de casa.

Não foi, no entanto, só na questão da longevidade que Deus falhou. Os órgãos! Os órgãos do homem são todos um escândalo, completamente destituídos de compatibilidade com as necessidades da sua vida. O fígado dói às segundas-feiras, a cabeça dói no fim do mês, as pernas doem no fim do dia, o

cotovelo dói quando o nosso colega foi promovido e nós não fomos. E o sangue? Que raio de mistura idiota estranha pôs Ele a correr nas nossas veias? Poderia ter colocado cerveja ou vinho ou outro líquido mais consentâneo com o que costumamos beber. Mas não. Encheu-nos as veias de sumo de vampiro, pois só vampiro é que gosta de tal mixórdia fluido. O único ser humano que Ele fez que tinha vinho nas veias foi Cristo. Claro, mas esse aí é Divino, Santo, Eterno, e está sentadinho à Sua direita - uma honrosa mas injustíssima excepção. Não se faz!

(Imagem daqui)

9 de julho de 2010

obsessões do meu ipod (16)

1969. Chico estava quase no início da sua carreira. Criou Essa Moça Tá Diferente três anos depois d’A Banda que o catapultou definitivamente para o reconhecimento mundial. Estava então com 25 anos, prestes a exilar-se em Itália, por não simpatizar com a ditadura militar. Essa Moça Tá Diferente é uma das primeiras canções do Chico em que se mistura já a intensa crítica social com a mais conseguida  componente lírica, tudo servido por uma estrutura linguística, poética e rítmica, de inegável riqueza.

(Desligue o rádio do blogue e veja e ouça com atenção.)

Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar
Eu cultivo rosas e rimas
Achando que é muito bom
Ela me olha de cima
E vai desinventar o som
Faço-lhe um concerto de flauta
E não lhe desperto emoção
Ela quer ver o astronauta
Descer na televisão
Mas o tempo vai

Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Que ela só me guarda despeito
Que ela só me guarda desdém
Mas o tempo vai
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Se do lado esquerdo do peito
No fundo, ela ainda me quer bem

Essa moça é a tal da janela
Que eu me cansei de cantar
E agora está só na dela
Botando só pra quebrar

8 de julho de 2010

rufen Sie uns an

Mozart, Victorino de Almeida, Otelo, Herman e Maria de Medeiros, talentos que chamam Toy (António Manuel neves Ferrão) para a sua (deles) companhia. Desconhecia em Toy este talento. E vocês?

Curso de iniciação ao Latim

latim Gaudete in Domino  -  O Gaudêncio está no dominó.

Te deum laudamus  -  Te dei uma lambada

Gaudium et Spes  -  O Gaudêncio no Spa

Pules ad Margaritam  -  Salta para cima da Margarida

Fedro -  O Frederico

Esopo -  O ensopado

La Fontaine -  A Maria da Fonte

Agnus dei qui tollis peccata mundi -  Eu dei-te um anho porque és o tolo mais pacato do mundo.

Miserere nobis -  A Novis está uma miséria.

Habemus papam -  Chegou o padeiro

(Imagem daqui)

7 de julho de 2010

combater a crise…

700-377968 Estão-me a dizer que não vislumbram outra solução. Vamos todos, definitivamente, ter que cortar a televisão, o telefone, a Internet (juntamente com o facebook e o farmville e as correntes de solidariedade e aquelas incontornavelmente ubíquas apresentações de powerpoint cheias de decrépitas fábulas moralizantes). Vamos ter que viver sem o 3D (e o 4D e o 5D, que já devem estar na forja). Vamos vender os telemóveis e os ipads e os pdas e pdes e pdis e restante fauna cibernética. Vamos afastar-nos decididamente do automóvel que nunca mais conseguimos pagar e dentro do qual teimamos permanecer. Vamos pregar o calote nas companhias de gás, água e electricidade, dizer adeus ao duche diário e aos motores que regam o nosso jardim, dispensar a cozinha e passar a comer figos e erva crua. Vamos fechar as nossas depauperadas mas persistentes contas bancárias e despedir por justa causa os nossos imprestáveis e obsoletos gestores de conta. Vamos recuperar os nossos sapatos do casamento, os fatinhos da comunhão e as gravatas dos nossos divórcios. Vamos vestir de novo a velha roupa que tínhamos empilhado para seguir para Angola. Vamos ficar surdos à importação, cegos às novidades e mudos à situação politico-económica. Vamos fechar a porta a todos os cobradores e abrir a janela ao ar puro, produto raro mas insuspeitamente grátis.

(Combater a crise! Que delícia! Que libertação! Que felicidade!)

(Imagem daqui)