o acidental filho do trala*

31 de dezembro de 2009

Em tempo de crise é que engordam os porcos

porco O ano que passou (enfim, toda a década que passou) foi mau para a democracia e para a saúde. Os moralistas apregoam que não podia (não deveria) ter sido assim, que, em tempo de crise, não se pode roubar o pobre, não se deve olhar os umbigos, não se pode amarrar o burro na seara alheia, não se deve usar de intrujice, de sacanice, de sandice, de patifaria, de canalhice, de infâmia, de pulhice, enfim, da mais hedionda falta de vergonha do acto político de que os mais fantasistas poderiam alguma vez ter suspeitado. Tudo isso se passou em Portugal, na década de zero e, sobretudo, na sua segunda metade.

Mas os moralistas estão enganados. É em épocas de crise que mais se acicata a ignomínia, que mais prolifera a vileza, que mais se ceva a baixeza dos homens…

(Pronto, já fui moralista quanto baste. Agora vou ver se sobrou alguma coisa do jantar dos ricos…)

(Imagem daqui)

6 de dezembro de 2009

Christmas carols…

christmas Natal de novo. Prendas.

Há que fazer uma lista de presentes para dar aos nossos chefes, aos nossos superiores hierárquicos, aos nossos avaliadores. Como a crise está brava e o dinheiro não serve todos os nossos propósitos, há que ser muito selectivo. Nada de dar prendas àqueles que não podem nunca fazer-nos nenhum mal…

Os amigos, os perenes amigos, os que realmente gostam de nós ficam sem prendas este Natal. Neles nada de perverso contra nós se pode engendrar. É esta a razão por que não gastaremos um cêntimo com eles desta vez…

Há, no entanto, um conjunto de pessoas de quem dependemos para continuar a respirar ou comer o nosso bacalhau com batatas na paz de Deus. Esses merecem, é claro, a nossa integral devoção.

(Se eu vou dar prendas ao meu melhor amigo? Claro que não. Desse nada de mau posso esperar… )

(Imagem daqui)

1 de setembro de 2009

Vêm aí as eleições…

eleiçoesChegaram as eleições. Que alegria!

A alegria da chegada das eleições só é comparável à da chegada das férias e das andorinhas. Adoro eleições. Na verdade, só votei uma vez, em 1975, acho eu, era então um jovem incendiado a escrever como ia ser a minha vida. E tinha sobre ela uma irresponsável e sublime expectativa.

Não me lembro que eleições foram essas, mas sei que foram as primeiras a que compareci. E também as únicas. Achei tudo muito divertido. Votei então num impensável partido de extrema-esquerda. Depois, a vida correu, correu, caiu e machucou-se. Nos joelhos e na esperança. Como qualquer criança. E todos os anos havia a chegada das andorinhas. E houve, depois, regularmente, eleições que eu seguia de longe, cada vez mais perplexo. Mas só as andorinhas melhoravam as nossas vidas…

(Ah! Sabem que mais? Nem as andorinhas…)

(Imagem daqui)

18 de agosto de 2009

Um caso quase verídico

Heaven Depois dos sessenta anos, o Sr. Ricardo Santiago, razoavelmente rico e sempiterno solteirão, começou a construir a ideia de que valeria mais investir no céu do que na terra, na alma do que no corpo. O corpo pendia-lhe para o sono e a terra estava ultimamente a presenteá-lo com mais desencantos e arrelias do que júbilos. Foi por isso que, no passado mês de Julho, resolveu deixar toda a sua fortuna a um desconhecido que lhe entrou pela casa dentro e lhe prometeu um lugar cativo no Paraíso, para toda a eternidade. Fez-se a prova do pleno uso das suas faculdades mentais e a escritura de doação, baseada no facto de não haver herdeiros directos e de que o desconhecido lhe salvara a vida. Foi esse profundo sentimento de gratidão que permitira a transferência para a conta do desconhecido de mais de duzentos e cinquenta mil euros.

Por alguma razão, porém, a Polícia veio a saber deste acto cartorial e, desconfiada, investigou e acabou por trancafiar a alma caridosa do burlão (a alma e o corpo ainda jovem) atrás das grades, devolvendo, na íntegra, a fortuna do Sr. Ricardo ao seu legítimo proprietário e aconselhando este a fazer, de preferência, uma transferência para o Estado, facto que certamente lhe daria sentido à vida e lhe devolveria a felicidade perdida, ainda cá neste mundo.

Seja porque não sabia quem era esse tal Estado, seja porque, sabendo-o, este beneficiário não lhe granjeou confiança, o Sr. Ricardo Santiago nada mais fez quanto à sua fortuna, continuando, assim, condenado à riqueza terrena e sem esperança numa cadeira ao lado de São Pedro…

(Imagem daqui)

10 de agosto de 2009

Intimista

Onde estava eu enquanto estes dois emanavam torrentes de sensibilidade, inteligência e talento? Que vida imprestável estaria eu vivendo? Quereria ficar colado a esses dois aí, feito tatuagem. Enfim, eles estão aí, vivos, e eu também. Por isso, não trocaria o meu tempo por nenhum outro…

26 de julho de 2009

Aurea mediocritas

A criançada, em número de seis exemplares (alguns deles sendo claramente seus), encharcava-se na água alambre da swimming-pool de plástico de três metros. A sogra acabava de aurea medchegar dentro daquele seu inolvidável vestido às ramagens, apregoador de tantas primaveras passadas, e trazia um bolo de noz. A mulher soprava umas brasas para assar uns nacos de carne de promoção. Ele, sentado na cadeira de plástico branco, folheava a Dica da Semana e sorria sereno de alguma novidade política, inconfidência de estrela pop ou baixa de preços, sentindo no ar o cheiro certificado da família e das febras. Uma única preocupação enrugava, de quando em vez, as testas do casal: que algum dos respectivos amantes telefonasse agora, a estragar as alegrias da consoladora e reconfortante tarte de noz familiar…

(Imagem daqui)

25 de julho de 2009

Minudências minhas

poder O poder

Nunca o tive em minhas mãos, nem mesmo para saber de que cor ele é. Mas ouço falar dele desde, pelo menos, 1974. E, aparentemente, raras vezes estacionou ele nas mãos certas, ou, pelo menos, nas mãos menos erradas. O poder deve ser como o dinheiro (que também nunca tive): quem o tem quase nunca o merece, quem nunca o teve nem sequer sabe se é mau viver sem ele, nem se é bom viver com ele…

Nem pensem em um dia me dar poder, ainda que seja um poderzinho limitado, assim do tipo mandar numa ilhota como a do Alberto João. Pensam que eu me ficava por umas alarvidades contra a república, o estado, o governo, o ministério? Nada disso. Eu afundava mesmo. Destituía dos seus lugares todos os políticos, administradores, chefes, directores, capatazes, para colocar lá os meus amigos e as suas esposas (pelo menos as menos feias e as que cozinham bem e que alguma vez me tivessem convidado para almoçar, jantar ou outra).

Isso não seria um governo decente? Claro que não seria, seria apenas mais um governo para cumprir a tradição.

(Isto é mesmo a silly season)

(Imagem daqui)

10 de julho de 2009

O Ti’ Asdrúbal

blog O Ti’ Asdrúbal tem 85 anos. É um lenitivo para todos, porque nos empossa da esperança de que se pode chegar à sua idade com o seu vigor e a sua sanidade mental. A semana passada, ajudei-o a instalar o seu acer novinho de 400 euros. Liguei-o à rede global por meio de um serviço adsl que eu próprio decidi pagar-lhe. Melómano, ouve cotonetes clássicas. Devora toda a blogosfera nacional (até este blogue ele lê, imagine) e passa horas a analisar as notícias e os comentários dos jornais online. Hoje pediu-me que lhe ensinasse a criar um blogue. Diz que tem coisas para contar. Não perdi tempo. Cada minuto de demora é uma perda irreparável para o mundo…

(Imagem daqui)

9 de julho de 2009

Estudos

estudo Um estudo é um conjunto de pesquisas cientificamente orientadas que produzem um determinado número de dados que são depois criteriosamente tratados (por isso se chama um estudo) de acordo com metodologias direccionadas para a obtenção de uma determinada verdade que toda a gente já sabia, muito antes de o estudo ser encetado. A grande vantagem de um estudo está, sobretudo, no facto de nos revelar, de um modo científico, exactamente aquilo que já todos sabíamos de um modo empírico, mas que já havíamos esquecido completamente, devido ao tempo que o estudo normalmente demora para concluir coisas. Daí resulta que um determinado facto é conhecido porque nós o vivenciámos. Seguidamente, esquecemos o facto porque tudo o que está sabido a gente esquece e pronto. Aí, alguém resolve fazer um estudo sobre esse facto, para que possamos concluir que já todos o conheciam abundantemente demais. (O estudo só tem serventia para relembrarmos o que já soubemos e decidíramos, por bem, esquecer.)

O exemplo mais sintomático desta imprestabilidade dos estudos é esse recentíssimo estudo (saiu hoje mesmo das cabeças pensadoras) dirigido por um qualquer especialista na área das ciências ocultas da educação (que Deus nos defenda das Ciências da Educação) segundo o qual se conclui, entre outras fulgurantes concludências, que a divisão dos professores em duas classes (a dos titulados e a dos destituídos) semeou a desordem e o caos no jardim do sistema educativo (poxa, isso é que é novidade!). Conclui também o estudo da eminência que esta divisão é artificial e que os titulados foram simplesmente recrutados ao acaso.

(Meu Deus! Porque é que eu não soube disso antes? O que a gente pode aprender graças aos estudos não está escrito em estudo nenhum…)

(Imagem daqui)

3 de julho de 2009

Afinal, Bernardino, em que ficamos?

bernardino Fazendo jus ao seu subtítulo, o Tralapraki parece ser o único medium que está contra a detonação de Manuel Pinho. Não faz nenhum sentido destituir um ministro pelo facto de ele ter chamado cornudo, ainda para mais em código, ao líder do grupo parlamentar do PC, Bernardino Soares. Toda a imprensa e toda a comandita oposicionista viram nisto um crime de lesa pátria ou de lesa magestade. Em vez de se ter escandalizado tanto, a Imprensa deveria, tão simplesmente, interrogar o ofendido, mais ou menos nestes termos: “Senhor Bernardino, o senhor é realmente cornudo, ou trata-se de mais uma mistificação do senhor Manuel?”  Esta simples Yes/No question aquietaria qualquer ânimo, qualquer que fosse a resposta: “Sim, sou, mas o ministro tem olhos de raia e não vê a mulher vai para três meses” ou “Não, não sou! E se ele quisesse realmente saber onde está a mulher, perguntava-me a mim”.

manuelpinho E é tudo. Encerrava-se aqui o incidente. O ministro ficaria mais uns tempos a fazer rir os portugueses (que é disso que eles precisam), os trabalhos parlamentares seguiriam o seu rumo sem belisco e as (des)honras de todos os parlamentaralhos sairiam intocadas.

Não deixa de ser, no entanto, um pouco ousada (embora, em meu entender, não tanto como outras já conhecidas) a atitude que Manuel Pinho protagonizou. Trata-se de uma “investida” (com toda a propriedade) no campo íntimo de um deputado da nação. Qualquer dia, qualquer membro de um qualquer governo se pode dar ao escândalo de sustentar publicamente que o deputado X usa cuecas de Lycra, o Y adormece agarradinho ao Teddy Bear e o Z ouve os ABBA no carro com os vidros abertos. Isto sim, seria a desmoralização total do parlamento e do país…

(Imagens daqui e daqui)

28 de junho de 2009

Concentração de grávidas

gravida “Barrigas de Amor” no Canal 1

(Quem será o tipo que tem tempo e disposição para encher quele mulherio todo? Acredito que seja um desempregado, evidentemente…)

(Imagem daqui)

26 de junho de 2009

Negócios

Isolated red cherries A PT não comprou a Media Capital. Mas eu comprei cerejas.

O meu negócio fez-se sem mediação nem mediatismos, sem ASAE e sem IVA, sob guarda-sol colorido, na beira da estrada da Beira, onde outros negócios (tão ou mais libidinosos que o das cerejas) podem igualmente ser levados a efeito.  O homem que alegremente mas vendeu manteve a sua linha editorial. Tenho a certeza.

(Imagem daqui)

10 de junho de 2009

Participação de Ocorrência

calças No dia 9 de Junho de 2009, 3ª-Feira, pelas 11H00, no decurso de uma aula de Inglês, receberam ordem para abandonar a sala os alunos número cinco, Carlos Manuel Braga e número oito, João Pinto das Neves, do 7ºA, por se terem envolvido numa espécie de luta, de onde resultou a queda das calças de um deles, facto que terá provocado algum constrangimento na sala de aula e nas próprias calças do professor, anos 20, suspensorizadas, que nunca viram com bons olhos tanta devassidão.

Os alunos foram enviados ao gabinete de apoio, com tarefas prescritas: um deles foi incumbido de recolocar as calças o mais próximo possível da cintura; o outro foi incumbido de fazer um trabalho sobre a razão pela qual estas calças da moda não caem mais vezes. Nenhum dos alunos conseguiu completar a tarefa. O professor acabou por se esquecer de lhes marcar as respectivas faltas.

(Imagem daqui)

8 de maio de 2009

CDL e CII

cdl Os contratos de trabalho dos banqueiros e gestores bancários (enfim, de todos os que têm acesso fácil e privilegiado à massa com que se compram os melões) deveriam contemplar uma cláusula que justificasse a falta ao emprego quando aqueles profissionais acordassem de manhã com uma indomável vontade de fazer uma falcatrua financeira ou um desvio de capitais para as suas contitas pessoais. Chamar-se-ia Cláusula da Desonestidade Latente (CDL) e, no limite, evitaria a bancarrota do sistema capitalista. Não é que eu esteja particularmente empenhado em que o sistema capitalista não caia do cavalo ou não rebente pelas costuras. Por mim, pode até explodir, implodir, derreter, escoar-se, petrificar-se, que eu não estou nem aí. Mas custa-me por demais ser mais um dos pacóvios que andaram para aqui a ver navios, trabalhando decentemente, cheios de pruridos e de contenções éticas, enquanto uma falange de mafiosos se governou com o meu trabalho de asno e a minha inépcia financeira.

cii Cláusula semelhante deveria ser introduzida no ECD, permitindo aos professores ficarem em casa nos dias em que acordassem invulgarmente estúpidos. Neste caso a cláusula seria chamada CII (Cláusula da Idiotia Imprevisível). É que cachorrice e imbecilidade não são doenças genéticas. São adquiridas socialmente e mais contagiosas que sarna multissintomática.

Por que falo destes dois casos? Bem, do primeiro quem fala é a minha lamurienta e desprestigiada carteira. Quanto ao segundo, caí, desamparado e zonzo, numa reunião de professores contra encarregados de educação e vi quão benéfica teria sido uma quarentena. Chiça!

(Imagens daqui e daqui)

4 de maio de 2009

quarentena

mascara Tenho estado fechado. Por causa da gripe porcina ou mexicana ou lá como se chama essa nova coqueluche. (Ultimamente temos andado a sofrer de pandemonias várias: freeportite A, vitalmoreirite B, crisite C, desempreguite D, campanheleitoralite E, etc. Por isso estive fechado esse tempo todo. Mas agora vou regressar, visto que afinal só houve um caso em Portugal e ainda nem sequer foi caso que se visse. Portugal continua a ser um paraíso onde os vírus não se dão bem. (Nem os corruptos, que também são uma espécie de vírus mas maiores e com barba na cara, embora sem vergonha). Por isso vou regressar. De máscara clínica. Mas vou.

(Fica a ameaça.)

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24 de abril de 2009

Não existe literatura do encómio, meu caro…

literatura1 Sempre que alguém escreveu panegíricos, arrependeu-se um dia. Músicos endereçaram odes triunfais a ditadores de esquerda e de direita e rasgaram as partituras. Grandes Poetas debitaram loas aos seus heróis e descreram de tudo na última página. Dramaturgos sublimes elevaram aos píncaros os seus heróis colectivos e nunca mais foram lidos.

A única literatura que perdura é a da mordacidade. O único texto decoroso e honesto corre contra a corrente. O único poema que nos arrebata é o do ressentimento cristalizado.

Tudo o mais fica aí a perpetuar a mediocridade de quem o fez, a limitação triste da triste humanidade…

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Radio Days

radio antigo Lembraste-te, pois foi… Eu sei que ficaste apaixonado pelo Radio Days. A propósito dos Mass Media que leccionas em Inglês e, mais especificamente, a propósito da importância da rádio nas anos 40, ousaste levar o filme para a aula. Enquanto te deleitavas com tudo o que Allen te propunha, desde a música até os inteligentes diálogos de cena, passando pelos escultóricos receptores de madeira e a guerra dos mundos de Welles, os teus alunos adormeciam lenta e despudoradamente na semi-obscuridade da sala. E tu não entendeste que porra falhou ali.

Ou já previas tudo isso, mas ainda assim apostaste. E perdeste, já se vê.

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3 de abril de 2009

Vou ser famoso, prontos!

fame Já decidi: quero ser famoso. Tenho praticamente todos os requisitos: sou estúpido, feio, pobre e não sei fazer praticamente nada. Nunca serei rico, nem belo, nem inteligente. Resta-me, portanto, ser famoso.

O meu problema com relação aos requisitos é que lhes falta um pouco de radicalidade. Sou estúpido, mas não sou o mais estúpido de todos. Sou feio, mas conheço pelo menos um tipo mais feio do que eu. Já é famoso, é claro. Sou pobre, mas tenho um modesto e virtuoso emprego que me dá o sustento dia após dia. Não sei fazer nada, mas os famosos sabem fazer isso bem melhor do que eu.

Enfim, não conheço maior impedimento à fama que ser quase normal. Preciso urgentemente de me anormalizar um pouco.

Mas não vou desistir. Com o que me sobrou do salário deste mês, comprei uns óculos escuros. É o primeiro passo, vocês não acham? Não será muito, mas um primo afastado meu é Presidente da Junta e...

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28 de março de 2009

Minudências minhas

monotonia A monotonia

Sou um chato. Monótono e monocórdico, raramente resvalo. Passo dias observando os mesmos objectos, repetida e insipidamente pasmado. Mudo de olhos, sim, mas não mudo de motivo. A monotonia agrada-me. O meu samba é de uma nota só e é divino. Outras notas podem entrar, mas a base é uma só… etc.

Quando me sento ao piano, toco com o indicador direito. Sai uma coisa qualquer, provavelmente inesperada (um analfabeto musical nunca sabe que som vai sair de uma tecla), mas sempre sublime. E o que procuro a seguir? Outra nota? Não! Procuro a mesma, tocada em outra tecla, com outro dedo. Mas a mesma. Passei a minha vida à procura de uma mulher que conheci aos 15 anos. Quando achava que a tinha encontrado, casava-me. Afinal não era ela. Divórcio, que é a mesma coisa que a procura monocordicamente incessante, mas tocada por outro dedo, vista por outros olhos, abordada pelo outro lado da paixão.

(Decididamente amo obsessivamente a monotonia, pelo bem que traz ao mundo. Não é ela que previne a SIDA?...)

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27 de março de 2009

A melhor anedota de 2008

rir A melhor anedota que ouvi o ano passado é esta:

“- O que pensa do aborto?

- Bom, acho que tem sido um bom Primeiro-ministro.”

(Obviamente, alguém descobriu, inventou ou criou esta obra-prima. Coisa de um anónimo, certamente. Figuras de topo da literacia mundial, celebridades literárias, escritores dos spotlights culturais e televisivos podem escrever páginas e páginas da mais desmedida chatice literária. Um anónimo inventa aquela anedota e continua anónimo! Como pode ser injusto o mecanismo da fama!

Quero conhecer o autor daquela maravilha. É com ele que quero partilhar o momento sublime de uma cerveja ao fim da tarde. Pago eu.)

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22 de março de 2009

As férias são cooles…

pascoa Os putos vão ficar quinze dias em casa. Assim que soarem os últimos acordes das suas autoavaliações, pegam nas mochilas, nos ipodes e nos telemóveis e demandam a casa paterna. Serão quinze dias de televisão, de Nintendo, de YouTube (ou de Redtube, que esta gente pequenina de pequenino já não tem nada…), de Messenger, de Orkut, de Hi5. Serão quinze dias de convívio com os craques dos pais (que, esses sim, sabem de tudo e sabem muito), e de reuniões no McDonald’s à volta de inomináveis hambúrgueres gigantes, para ganhar no monopoly, depois de tardes inteiras escorridas nos centros comerciais a ver sapatilhas e blu-rays. As conversas aflorarão ainda os cretinos dos professores que erram pelos corredores como zombies, de olhar esmarrido, esquecendo-se de tudo, incapazes de pôr ordem nas salas, doentes e acinzentados, mas não empanarão as inefáveis alegrias do regaço familiar…

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6 de março de 2009

a palavra dos outros

socrates nariz Apologia de Sócrates

Absolutamente imperdível, pela qualidade da escrita, rigor da argumentação e subtileza da ironia, este inteligente e demolidor texto do “Dragoscópio”.

(Imagem do Blog)

caiu-me um niilista na sopa…

gorda Hoje fui almoçar com aquele teu amigo niilista. Então o que é que vai? Qualquer coisa, é-me absolutamente indiferente. E se fôssemos num bacalhau com todos? Pode ser, ou então frango de churrasco com salada de rúcula. Mas tu sabes o que é rúcula? Não sei, mas também não sei que coisas são bacalhau ou frango ou amizade. Nunca acreditei que a rúcula fosse comestível, como nunca acreditei que o amor me possa um dia entrar pela casa dentro. Se o amor me entrasse pela casa dentro saía a minha mulher. E a minha mulher é a única coisa que realmente existe e está lá dentro de casa e esteve lá ontem e vai estar lá amanhã. A minha mulher é perene como a relva. Meu Deus, como é estável e sólida aquela criatura. Bem, criatura é um modo de dizer porque ela não foi criada. Apareceu já feita na minha vida, eterna, vigorosa, demiúrgica. Vamos numa coisa mais levezinha, meu caro. E que não exista tanto…

(Imagem daqui)

5 de março de 2009

Da música, numa escola surda

Caro Eleutério,musica

(Ehehehehehe)  Elogio grande esse teu (e totalmente descabido) de dizeres que percebo de música. Não, não percebo de música. Reconheço que a música é um elemento fundamental de qualquer processo de educação pelo que oferece em termos de refinação do gosto, da sensibilidade e da inteligência, reconheço que os portugueses são de uma ignorância abusiva nesse item, mas não percebo de música. Pelo menos, ainda não. Quero, desde já, louvar esse teu projecto de passar música nas aulas, que acho escandalosamente fundamental. Como é possível que não façamos todos isso?! Como foi que nos passou essa ao lado?!

Mas também te digo, meu caro, que isso da música não é uma coisa democrática. Temos que acabar com esse cordialismo absurdo de que a música é toda boa e de que gostos não se discutem. Nada disso. Nada de pedir aos alunos a sua opinião sobre música e muito menos que tragam música ao seu gosto, a menos que eles já o tenham, coisa que, até agora, nunca aconteceu. E como não o têm (tal como 99% dos portugueses de todas as idades), é bom que lhes criemos esse gosto. Disso não tenho a mínima dúvida, a bem dos seus QI’s e da sua formação integral.

Podes contar com a minha discoteca clássica em CD, que é bastante completa. Podes contar com alguns LP’s meus e com as minhas buscas regulares sobre música através do peer to peer. Por vezes serve.

Parabéns pela ideia. É um projecto ambicioso e sério. Finalmente UM.

(Imagem daqui)

4 de março de 2009

Discoteca, eu? Jamé

discoteca Em 1974 fui a uma discoteca pela última vez. Era, até aí, um indefectível frequentador de Sexta a Domingo. Entrava, escuro prometedor, escuro amigo dos feios, regenerador, inebriante escuro… Depois, luzes aturdiam o olhar, todas as mulheres eram belas, muito mais que na praia, muito mais que as nossas. (As nossas mulheres nunca foram à discoteca. Se elas lá estivessem, nunca mais seriam nossas.)

Num desses dias de Verão eterno de 74, fui à mesma discoteca de sempre, mas durante o dia. Aquilo abriu as portas de par em par para proceder a umas obras de redecoração. Quando entrei fui logo saudado por um odor ácido, corrosivo, acre. O estofado dos bancos era uma nódoa só, uma nódoa incrustada de gorduras várias, de cerveja, de batidos, de sémen, de vómito, por esta ordem ou em simultâneo. Não sabia que o sonho da festa se passava nesta degradaçáo. Nunca mais entrei nesse botequim. Nem noutro qualquer minimamente similar...

(Imagem daqui)

2 de março de 2009

O filho do “Trala”

LEVE O filho do “Trala” surgiu assim. Imperfeito, maculado, imprestável. Recebe os trocos do pai, a mesada redundante do pai. Insano e primário, nunca se aproxima de uma escola a não ser para espreitar universitárias. Fora isso, traz consigo os genes da dissonância e da inexactidão.