o acidental filho do trala*

28 de março de 2009

Minudências minhas

monotonia A monotonia

Sou um chato. Monótono e monocórdico, raramente resvalo. Passo dias observando os mesmos objectos, repetida e insipidamente pasmado. Mudo de olhos, sim, mas não mudo de motivo. A monotonia agrada-me. O meu samba é de uma nota só e é divino. Outras notas podem entrar, mas a base é uma só… etc.

Quando me sento ao piano, toco com o indicador direito. Sai uma coisa qualquer, provavelmente inesperada (um analfabeto musical nunca sabe que som vai sair de uma tecla), mas sempre sublime. E o que procuro a seguir? Outra nota? Não! Procuro a mesma, tocada em outra tecla, com outro dedo. Mas a mesma. Passei a minha vida à procura de uma mulher que conheci aos 15 anos. Quando achava que a tinha encontrado, casava-me. Afinal não era ela. Divórcio, que é a mesma coisa que a procura monocordicamente incessante, mas tocada por outro dedo, vista por outros olhos, abordada pelo outro lado da paixão.

(Decididamente amo obsessivamente a monotonia, pelo bem que traz ao mundo. Não é ela que previne a SIDA?...)

(Imagem daqui)

27 de março de 2009

A melhor anedota de 2008

rir A melhor anedota que ouvi o ano passado é esta:

“- O que pensa do aborto?

- Bom, acho que tem sido um bom Primeiro-ministro.”

(Obviamente, alguém descobriu, inventou ou criou esta obra-prima. Coisa de um anónimo, certamente. Figuras de topo da literacia mundial, celebridades literárias, escritores dos spotlights culturais e televisivos podem escrever páginas e páginas da mais desmedida chatice literária. Um anónimo inventa aquela anedota e continua anónimo! Como pode ser injusto o mecanismo da fama!

Quero conhecer o autor daquela maravilha. É com ele que quero partilhar o momento sublime de uma cerveja ao fim da tarde. Pago eu.)

(Imagem daqui)

22 de março de 2009

As férias são cooles…

pascoa Os putos vão ficar quinze dias em casa. Assim que soarem os últimos acordes das suas autoavaliações, pegam nas mochilas, nos ipodes e nos telemóveis e demandam a casa paterna. Serão quinze dias de televisão, de Nintendo, de YouTube (ou de Redtube, que esta gente pequenina de pequenino já não tem nada…), de Messenger, de Orkut, de Hi5. Serão quinze dias de convívio com os craques dos pais (que, esses sim, sabem de tudo e sabem muito), e de reuniões no McDonald’s à volta de inomináveis hambúrgueres gigantes, para ganhar no monopoly, depois de tardes inteiras escorridas nos centros comerciais a ver sapatilhas e blu-rays. As conversas aflorarão ainda os cretinos dos professores que erram pelos corredores como zombies, de olhar esmarrido, esquecendo-se de tudo, incapazes de pôr ordem nas salas, doentes e acinzentados, mas não empanarão as inefáveis alegrias do regaço familiar…

(Imagem daqui)

6 de março de 2009

a palavra dos outros

socrates nariz Apologia de Sócrates

Absolutamente imperdível, pela qualidade da escrita, rigor da argumentação e subtileza da ironia, este inteligente e demolidor texto do “Dragoscópio”.

(Imagem do Blog)

caiu-me um niilista na sopa…

gorda Hoje fui almoçar com aquele teu amigo niilista. Então o que é que vai? Qualquer coisa, é-me absolutamente indiferente. E se fôssemos num bacalhau com todos? Pode ser, ou então frango de churrasco com salada de rúcula. Mas tu sabes o que é rúcula? Não sei, mas também não sei que coisas são bacalhau ou frango ou amizade. Nunca acreditei que a rúcula fosse comestível, como nunca acreditei que o amor me possa um dia entrar pela casa dentro. Se o amor me entrasse pela casa dentro saía a minha mulher. E a minha mulher é a única coisa que realmente existe e está lá dentro de casa e esteve lá ontem e vai estar lá amanhã. A minha mulher é perene como a relva. Meu Deus, como é estável e sólida aquela criatura. Bem, criatura é um modo de dizer porque ela não foi criada. Apareceu já feita na minha vida, eterna, vigorosa, demiúrgica. Vamos numa coisa mais levezinha, meu caro. E que não exista tanto…

(Imagem daqui)

5 de março de 2009

Da música, numa escola surda

Caro Eleutério,musica

(Ehehehehehe)  Elogio grande esse teu (e totalmente descabido) de dizeres que percebo de música. Não, não percebo de música. Reconheço que a música é um elemento fundamental de qualquer processo de educação pelo que oferece em termos de refinação do gosto, da sensibilidade e da inteligência, reconheço que os portugueses são de uma ignorância abusiva nesse item, mas não percebo de música. Pelo menos, ainda não. Quero, desde já, louvar esse teu projecto de passar música nas aulas, que acho escandalosamente fundamental. Como é possível que não façamos todos isso?! Como foi que nos passou essa ao lado?!

Mas também te digo, meu caro, que isso da música não é uma coisa democrática. Temos que acabar com esse cordialismo absurdo de que a música é toda boa e de que gostos não se discutem. Nada disso. Nada de pedir aos alunos a sua opinião sobre música e muito menos que tragam música ao seu gosto, a menos que eles já o tenham, coisa que, até agora, nunca aconteceu. E como não o têm (tal como 99% dos portugueses de todas as idades), é bom que lhes criemos esse gosto. Disso não tenho a mínima dúvida, a bem dos seus QI’s e da sua formação integral.

Podes contar com a minha discoteca clássica em CD, que é bastante completa. Podes contar com alguns LP’s meus e com as minhas buscas regulares sobre música através do peer to peer. Por vezes serve.

Parabéns pela ideia. É um projecto ambicioso e sério. Finalmente UM.

(Imagem daqui)

4 de março de 2009

Discoteca, eu? Jamé

discoteca Em 1974 fui a uma discoteca pela última vez. Era, até aí, um indefectível frequentador de Sexta a Domingo. Entrava, escuro prometedor, escuro amigo dos feios, regenerador, inebriante escuro… Depois, luzes aturdiam o olhar, todas as mulheres eram belas, muito mais que na praia, muito mais que as nossas. (As nossas mulheres nunca foram à discoteca. Se elas lá estivessem, nunca mais seriam nossas.)

Num desses dias de Verão eterno de 74, fui à mesma discoteca de sempre, mas durante o dia. Aquilo abriu as portas de par em par para proceder a umas obras de redecoração. Quando entrei fui logo saudado por um odor ácido, corrosivo, acre. O estofado dos bancos era uma nódoa só, uma nódoa incrustada de gorduras várias, de cerveja, de batidos, de sémen, de vómito, por esta ordem ou em simultâneo. Não sabia que o sonho da festa se passava nesta degradaçáo. Nunca mais entrei nesse botequim. Nem noutro qualquer minimamente similar...

(Imagem daqui)

2 de março de 2009

O filho do “Trala”

LEVE O filho do “Trala” surgiu assim. Imperfeito, maculado, imprestável. Recebe os trocos do pai, a mesada redundante do pai. Insano e primário, nunca se aproxima de uma escola a não ser para espreitar universitárias. Fora isso, traz consigo os genes da dissonância e da inexactidão.