Os muito pobres que me desculpem, mas riqueza é fundamental.
Um grande poeta brasileiro começou assim um dos seus mais saborosos poemas. Todos sabemos que os muito ricos ficaram assim por uma das três razões seguintes: 1 herdaram; 2 roubaram; 3 tiveram sorte. Em alguns casos juntaram-se as três, numa conjura afortunada e deixaram a vítima em estado lastimável, sem possibilidade de se poderem livrar da riqueza. O doente contrai então uma espécie de riqueza crónica, incurável, persistente. Nem todos os ladrões do mundo, nem todas as amantes do seu bairro, nem todos os estados gananciosos, nem mesmo a GNR com as suas providenciais multas conseguem tirar-lha.
Ficam assim, inabalavelmente ricos, frustradamente ricos, embora a maioria não apresente sintomas muito desconfortáveis. A riqueza deste tipo produz apenas um pouco de sonolência e, por vezes, alguma burrice, também ela crónica. Os alardeados sintomas de tristeza suicidária ou frustração maníaco-depressiva, febre dos fenos e frieiras interdigitais de que se diz sofrerem os ricos não passam de mito ou superstição. É certo que são ocos e presunçosos e possuem um mau gosto de pasmar, mas isso não faz deles criaturas merecedoras da nossa compaixão…
Um acrescento: a doença parece não ser contagiosa. (Infelizmente).
(Imagem daqui)
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