o acidental filho do trala*

19 de fevereiro de 2010

Minudências minhas

euros O dinheiro

Eu e o dinheiro temos uma relação platónica: amo-o muito mas nunca lhe toquei. Somos, apesar de tudo, fiéis um ao outro, tanto quanto o permite esse ascetismo que nos envolve: ele anda por outras mãos, pensando em mim, no que eu lhe faria se um dia o tivesse… Por meu lado, nunca lhe imaginei um substituto mais vantajoso.

Como acontece com todos os amores platónicos que um dia deixam de o ser, acredito que, uma vez tendo-o, perderia por ele o apetite. Os que o têm todos os dias vejo-os eu inconformados e ansiosos, insatisfeitos de corpo e alma, tentando sempre conquistar outro e outro e outro. Tarefa inglória, repetitiva, monocórdica, anorgástica…

Mas eu não. Eu divinizo-o, como divinizo o tempo, as hóstias e as próprias deidades. Sublimo-o. Adoro-lhe de longe as transcendentes moradas (CGD, BPN, BES, e outras catedrais) e mordo o lencinho de donzela recatada…

Tem vezes que babo…

(Imagem daqui)

17 de fevereiro de 2010

sobre esta nossa coisa íntima…

… de querermos sempre manipular a opinião dos outros

barbatana A tentativa recorrente de tentarmos virar a opinião pública a nosso favor é mais velha que o mundo. Mesmo nós, que do poder só temos a barbatana, gostamos quando alguém diz bem do que fizemos ou enaltece as nossas posições e argumentos. Amigo meu chama-me inteligente e talentoso e di-lo aos outros completamente à borla. Essa história de que os amigos são quem nos fala a verdade é pura léria. Para que quero um verdadeiro amigo que olha de lado para o que faço, que está sempre pronto a aporrinhar-me com moralismos, que só sabe é chamar-me a atenção para as minhas burrices e infracções? Quero é amigos que me lisonjeiem, que acenem cordatos e respeitosos quando falo, que riam alvares das minhas piadas tontas. Quero lá saber do que eles pensam lá por dentro! O que me interessa realmente é que todos acreditem que eles são sinceros, ainda que nunca o tenham sido, nem façam planos para o ser.

E só tento agarrar-me à barbatana do poder… a caudal…

(Imagem daqui)

6 de fevereiro de 2010

obsessões do meu ipod (5)

chico_buarque

O samba em Chico Buarque – “Ela faz cinema”.

(Desligue o rádio do blogue à direita e ouça, clicando no play acima.)

Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual
Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim

E a cada vez que o perdão
Me clama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz
Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.

(Imagem daqui)

Nota: Nesta rubrica. tenho vindo a publicar alguns ficheiros de audio. Assumo como legal esta actividade, mais por razões de natureza consuetudinária do que por verdadeiro conhecimento da lei de autores. Qualquer entidade que vislumbre um quadro de ilegalidade neste acto deverá fazer-me saber e a rubrica será de imediato cancelada.