Eu e o dinheiro temos uma relação platónica: amo-o muito mas nunca lhe toquei. Somos, apesar de tudo, fiéis um ao outro, tanto quanto o permite esse ascetismo que nos envolve: ele anda por outras mãos, pensando em mim, no que eu lhe faria se um dia o tivesse… Por meu lado, nunca lhe imaginei um substituto mais vantajoso.
Como acontece com todos os amores platónicos que um dia deixam de o ser, acredito que, uma vez tendo-o, perderia por ele o apetite. Os que o têm todos os dias vejo-os eu inconformados e ansiosos, insatisfeitos de corpo e alma, tentando sempre conquistar outro e outro e outro. Tarefa inglória, repetitiva, monocórdica, anorgástica…
Mas eu não. Eu divinizo-o, como divinizo o tempo, as hóstias e as próprias deidades. Sublimo-o. Adoro-lhe de longe as transcendentes moradas (CGD, BPN, BES, e outras catedrais) e mordo o lencinho de donzela recatada…
Tem vezes que babo…
(Imagem daqui)