Há 15 anos que não sou promovido. Primeiro, achei que tinha sido objecto de esquecimento. Depois, e de acordo com o Princípio de Peter, verifiquei que, de facto, tinha atingido o meu nível de incompetência.
Há, no entanto, outros como eu. E, curiosamente, considero esses bastante competentes no seu trabalho. Deve, no entanto, haver algum quid pro quo que lhes impede a progressão, como um cadáver no armário ou um escândalo sexual na adolescência, sei lá… A perplexidade do comparativo do eu com os outros é mais perplexa do que eu, quando me perplexizo. Na verdade, nunca soubemos por que razão os outros são piores ou melhores do que nós. Agora não sabemos também por que razões alguns são iguais a nós…
Já que a receita se manterá inalterável sine die, a solução da minha crise vai ter que se fazer do lado da despesa. Assim, já cortei quase tudo, excepto a água, o gás, a electricidade e a net. Mas também está por dias. Para começar, deixei de pagar o telefone. Toca todos os dias. Uma voz simpática de mulher aconselha-me a pagar a factura atrasada. Desligo. Não tenho grande respeito por vozes de máquinas.
Um dia desses vou ter que perguntar aos meus amigos perenemente despromovidos como fazem eles para chegar airosamente ao fim do mês.
(É que, comigo, chegar airosamente ao fim do mês é uma interrupção meteórica na minha ordinária pelintrice que não augura nada de bom…)
(Imagem daqui)