21 de março de 2011
20 de março de 2011
18 de março de 2011
Do amor e outros olvidos
Abraços e embaraços
Há um sem-número de incidentes mais ou menos embaraçosos que podem ocorrer durante o acto sexual. Na verdade, tudo o que não seja o natural e expectável desenvolvimento do processo é embaraçoso. Trata-se de um trabalho meticuloso, exigentíssimo em termos de concentração, que não admite falhas, interrupções ou adiamentos. Ninguém pode, a meio do processo, dizer algo como isto: bom, acho que vou fazer um intervalo para apanhar um bocado de sol.
Todos os órgãos têm que estar meticulosamente afinados, mesmo os que não tenham intervenção directa no acto, como são os casos do baço, do pâncreas ou da bexiga. Estes órgãos, apesar de nunca serem convidados para o sexo, apesar mesmo de o sexo se tornar improvável se um dos parceiros os mencionar ainda que de passagem, têm que estar de boa feição para permitir, em silêncio, que tudo se passe conforme a natureza ditou. E olhem que não é tarefa fácil estar ali a assistir a tudo, sem poder tomar parte… Por uma questão de justiça, devemos agradecer a esses órgãos a sua complacente paciência e solidariedade, sempre que o acto seja coroado de êxito. (Há homens que só agradecem a Deus e se esquecem sistematicamente deles.)
Porém, o maior inimigo de um bom desempenho é a breca. A historiografia sexual está cheia de desastres provocados pela breca. Nenhuma mulher entende isso e, no entanto, a breca é muito mais frequente do que se imagina. Tu levantas-te de repente com uma perna no ar, ganindo de dor, não tens posição conciliatória, nem te ocorre sequer alinhavar uma justificação. Ficas ali apavorado e já nem te preocupas com a tua imagem arruinada. E a tua parceira a achar que não passas de um palhaço e que teria feito melhor se aceitasse o convite do marido para ir visitar a tia Leopoldina. Um nome a riscar do seu cardápio é o que para ela passarás a ser em definitivo. A breca destruiu-te a noite e a auto-estima. Encolheu-te, num só dia, uns bons dois ou três centímetros.
A breca provoca a auto comiseração e o arrependimento. É o primeiro passo para a salvação da alma. Por isso, Paulo, nas tuas próximas conquistas, não peças a deus a presença majestosa da erecção. Pede-lhe antes a ausência da breca…
(Imagem daqui)
7 de março de 2011
bem fundadas preocupações
Estou muito preocupado. Há dias fui tirar o cartão único. Apanhei no caminho um bocado de chuva e uma ventania de furacão, de forma que cheguei lá com os cabelos eriçados que nem gato assanhado. Tudo digital, pois claro. Assinatura, dedadas, fotografia. Não deu tempo para passar os dedos pelas melenas desgrenhadas e a máquina apanhou-me mesmo assim. Sem contemplações, sem apelo. Ainda percebi algum desassossego que a foto provocou na menina do registo civil, mas nenhum de nós moveu uma palha para substituir a inominável fotografia. Erro fatal.
Nada disto teria importância se estes novos cartões não percorressem o mundo inteiro, até irem parar algures nos EEUU, onde um dedicado funcionário analisa os trombis, as fronhas, enfim, os rostos de tudo quanto é cidadão mundial, a fim de detectar possíveis facínoras e prever eventuais ataques terroristas. Ora se, tanto quanto fui informado, o aspecto físico dos cidadãos é elemento considerável, quase decisivo, para a sua classificação como suspeitos nos arquivos da acção anti-terrorista intercontinental, não sobra nenhuma dúvida de que devo estar, neste preciso momento, numa qualquer lista negra como provável bombista, ou coisa pior. Se juntarem à insana guedelhice da minha foto doze namoradas, dois divórcios e uma vida inteira sem fé nem sacristia, pouco fica que me possa furtar à conjectura final - elemento perigoso para a civilização ocidental. No mínimo.
(Imagem daqui)