O ano que passou (enfim, toda a década que passou) foi mau para a democracia e para a saúde. Os moralistas apregoam que não podia (não deveria) ter sido assim, que, em tempo de crise, não se pode roubar o pobre, não se deve olhar os umbigos, não se pode amarrar o burro na seara alheia, não se deve usar de intrujice, de sacanice, de sandice, de patifaria, de canalhice, de infâmia, de pulhice, enfim, da mais hedionda falta de vergonha do acto político de que os mais fantasistas poderiam alguma vez ter suspeitado. Tudo isso se passou em Portugal, na década de zero e, sobretudo, na sua segunda metade.
Mas os moralistas estão enganados. É em épocas de crise que mais se acicata a ignomínia, que mais prolifera a vileza, que mais se ceva a baixeza dos homens…
(Pronto, já fui moralista quanto baste. Agora vou ver se sobrou alguma coisa do jantar dos ricos…)
(Imagem daqui)